quinta-feira, 31 de maio de 2012

It is so quiet out here, it is the quietest place in the world.


"Stalker, de Andrey Tarkovski

Argumento adaptado: Martin Scorsese sobre "Raging Bull"


Tínhamos uma versão do roteiro de Paul Schrader no qual "Evening with Jake La Motta" vinha no princípio e no fim, tornando o filme como um círculo. Jake recitava excertos de Shakespeare, Tennessee Williams, um discurso de "On the watefront"; e pensei que seria interessante se ele fizesse uma cena de Ricardo III. Ainda se pode ver o cartaz do filme que contém toda esta lista de autores. De qualquer modo, já tínhamos mostrado o argumento a Michael Powell e a reacção dele foi de que seria errado. "Vocês não podem pô-lo a fazer isso, quer ele o tenha feito na realidade ou não, para este filme é errado." Por isso (...) Bob e eu fica´mos a olhar um para o outro e ele disse que "On the waterfront" era a nossa iconografia, não Shakespeare. Portanto, porque não usar isso?

terça-feira, 29 de maio de 2012

Hello. My name is Inigo Montoya. You killed my father. Prepare to die.


"The princess bride", de Rob Reiner

"There will be blood"



Paul Thomas Anderson, desde que surgiu, tem sido apontado como o herdeiro de uma série de grandes realizadores, desde Scorsese a Robert Altman. Se isto, por um lado, atesta o seu enorme talento como cineasta, por outro reduz o valor da sua originalidade, e coloca-lhe um peso acrescido de ter de manter a comparação. Nas críticas que leio a "There will be blood", Anderson volta a ser comparado a outro grande realizador da História do cinema, John Ford, e aí eu pensei: o que faz este homem para que seja equiparado a 3 artistas tão diferentes no seu estilo e nas suas temáticas? Está claro que isso é a prova definitiva da polivalência de Anderson como homem do cinema. "Boogie nights", "Magnolia" e "Punch-drunk love" têm como única ligação concreta passarem-se em S. Fernando Valley, a zona da cidade de Los Angeles onde normalmente se desenrolam os seus filmes.



"There will be blood" pode até passar-se em S. Fernando Valley, mas uns 100 anos antes de todos os filmes de Anderson terem lugar. Estamos na California de 1892 e acompanhamos um prospector chamado Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) em plena actividade de exploração. Os primeiros 20 minutos são absolutamente mudos e de uma economia de caracterização de personagem absolutamente notável: quando Plainview cai num poço de extracção, parte uma perna e encontra um pedaço de prata. Julgamos que a sua maior pressa é ir ao médico. Claro que sim, mas só depois de se arrastar até à cidade mais próxima e se dirgir ao Gabinete de Prospecção para registar a sua descoberta.
Plainview é um maníaco do sucesso e da riqueza; é profundamente obcecado com os seus objectivos; e não parece haver grande espaço para sentimentos no seu interior. Está lançado o mote para um longo de estudo de personagem que dura duas horas e meia. Seguimos a carreira de Daniel e do filho adoptado H.W, que seguem comprando terras onde se situam lençóis de petróleo, por toda a Califórnia. É nesse percurso que encontram aquele que é o outro grande personagem da história, Eli Sunday, auto-imposto pastor evangélico, que funda um pequeno culto numa aldeia onde se encontra um largo lençol de petróleo que Plainview quer explorar. O confronto entre estes dois personagens é o que faz avançar a segunda metade do filme e coloca, simbolicamente, duas forças em confronto: o capitalismo, representado pela sede de riqueza de Plainview, e a religião, simbolizada por Eli Sunday. No entanto, ambos são colocadas desvirtuadas: Plainview vai a extremos na sua ânsia, seja a extorquir aldeões das suas terras, seja pelo seu desprezo pelos outros apenas por serem os outros, onde chega a dizer que a razão pela qual quer se rico é para nunca mais ter de falar com ninguém. De facto, este é um homem cujos únicos lampejos de humanidade são vistos através da sua relação com o filho, mas isto apenas ao início. À medida que o filme se desenrola, sentimos que perdemos Plainview por completo, para um buraco mais escuro que o petróleo que procura.



Eli é a religião manipulativa, um falso profeta com manias de grandeza, mas que se auto-ilude. Usa as pessoas para conseguir ser alguém na vida e vê em Daniel uma fonte de dinhieor que poderá elevar a sua Igreja da pequenez de um lugar perdido no meio do deserto. O confonto de vontades entre estes dois homens, na luta pela influência nas pessoas de Little Boston e posterior uso mútuo daquilo que ambos têm de melhor, ressoa obviamente dois dos grandes pilares do espírito americano, o direito de cada um a enriquecer e de acreditar no que seja, até a maior aldrabice. Anderson consegue, assim, um raro exemplar de épico intimista, grande nas ideias e temas, pintado a pinceladas largas, mas nunca se afastando do seu centro de gravidade, que é Daniel Plainview.
Falar do trabalho de Day-Lewis neste filme é uma imensa redundância. Vão ler aqui o que já leram noutros lados: o homem é o maior, ponto final. Trabalha muito pouco, mas quando aparece, pega em personagens que nunca ninguém se lembrou de criar, transfigura-se e dá performances tão boas que nos fazem querer levantar a meio e bater palmas pelo que estamos a ver. Paul Dano é que merece palavras elogiosas e tem recebido poucas, pois é difícil desviar a atenção do Day-Lewis show. Dano consegue ser carismático como pastor e patético como personagem, um paradoxo que nunca deixa de ser credível. Para além disso, nunca perde o pé quando tem de se confrontar com "the man" himself. No entanto, a interpretação de Lewis quase faz esquecer aquilo que torna este filme verdadeiramente poderoso: Paul Thomas Anderson. Naquele que é o seu melhor filme (e com a carreira deste homem, é muito dizer isto), Anderson, que é habitualmente palavroso e utiliza uma fartura de gimmicks visuais, consegue ser seco, profundamente visual, de uma economia de planos absolutamente impresssionante. Vê-lo utilizar apenas um plano para uma cena quando realizadores de menos categoria utilizariam 5 ou 6 deixa um cinéfilo abismado. Este filme prova, a quem tinha ignorado "Magnolia" e o muito subestimado "Punch-drunk love" que Anderson está a caminho de se tornar num dos grandes da história do cinema recente. Só alguém de categoria terminaria um largo épico numa cena que desenrola entre dois personagens numa sala, com quase um quarto de hora de diálogo. A sério.



Eis um filme que, pelo menos assim a frio, não é um dos melhores filmes da História do Cinema. Para lá caminhará. Não pertenço à categoria de fãs hiperbólicos de Anderson. Mas "There will be blood" é desde já uma das grandes obras cinematográficas do século XXI, sem dúvida, um filme com uma pulsão barrativa fora do comum e um daqueles personagens fascinantes capazes de criar culto no Youtube e de permanecer connosco muito depois de o filme terminar. E sim, também vocês vão sair da sala com vontade de gritar "I drink your milkshake! I drink it up!!!".

segunda-feira, 28 de maio de 2012

quinta-feira, 24 de maio de 2012

What an excellent day for an exorcism



"The exorcist", de William Friedkin

"Children of men"




"Children of men" é uma distopia cujo maior trunfo é a proximidade com o mundo em que vivemos, e, portanto, a probabilidade palpável da sua ameaça. Para além de ter servido de pretexto para o uso da expressão críptica atrás escrita, é também um brutal filmaço.

Conta a história de um mundo em 2027, onde a pessoa mais jovem do planeta, com 18 anos, morreu esfaqueada à porta de um bar. Este é um tempo em que a infertilidade feminina chega aos 100% e onde, portanto, não há esperança nem sequer no som de uma criança a brincar. Theo Farron (Clive Owen), personagem principal, é um desiludido funcionário público, a quem a ex-mulher, Julianne (Julianne Moore) pede que escolte uma jovem negra até à costa. A missão reveste-se de especial risco, visto que a jovem é imigrante e a Inglaterra de 2027 proíbe a entrada de estrangeiros; quando os encontra, envia-os para campos de detenção, onde são processados e devolvidos aos países de origem. Entenda-se por campos de detenção uma região inteira no sul do país, que toma os contornos de cidade controlada pela polícia e onde a constante anarquia reina entre os refugiados que aí são colocados. Para mais, Theo descobre o porquê de esta jovem ser importante: ela é sinal de esperança...



Alfonso Cuáron adopta a estratégia de realizar o filme de câmara ao ombro, a pedir meças ao estilo habitual de Paul Greengrass, onde a imagem anda à solta e planos sequência feitos a pé são regra geral. A estratégia funciona em pleno, pois adapta-se ao futuro caótico onde se vive, sujo, desiludido consigo mesmo e onde nada, mas mesmo nada parece correr bem. É um futuro tão negro que o simples chorar de uma criança é o que basta para que a esperança surja luminosa, mesmo que seja na proporção de um pirilampo fechado num poço escuro de 12 metros de profundidade. "Children of men" tem excelentes ideias, que precisavam provavelmente de um argumento melhor organizado: toda a história soa a périplo moralista. No entanto, a potente realização de Alfonso Cuáron consegue articular um todo coerente e dá-nos algumas das sequências mais memoráveis do cinema recente, como sejam um ataque a um carro onde a câmara não sai uma única vez do seu interior, e um plano-sequência de Theo e de Kee, a jovem que este protege, num campo de detenção, onde chovem bombas, balas e ódio por todos os lados. Clive Owen, o anti-herói do filme, está excepecional, com um desdém que acaba por nunca ser desprezo, carregando até uma certa nobreza no seu ar meditabundo. Ele acaba por ser, talvez, o mostruário do poder e uma criança como sinal de mudança: um homem que vê a sua fé no mundo perdida com a morte do filho e que acaba por ganhar, com outro que não o é, uma razão, não para sorrir, mas para ao menos lutar. De qualquer forma, o tom do filme é desesperante e a morte está sempre presente. Faz-noz pensar se daqui a 20 anos o desvario não seja este. Uma obra de visão obrigatóri para quem gosta de filmes que façam pensar a sério sobre este mundo em que vivemos actualmente.

Só esteve uma semana em exibição: "Out of sight"



Steven Soderbergh tem-se tornado o sinónimo de realizador todo o terreno, uma espécie de Land Rover cinematográfico que se adapta a qualquer género. É discutível se os seus filme têm sempre qualidade; não se pode é argumentar contra a sua adaptabilidade. Soderbergh consegue inclusive transformar potenciais blockbusters em imitações da Nouvelle Vague francesa, como em "Ocean's 12". Quando se fala da cinefilia bestial de Tarantino (com todos os seus defeitos e qualidades), ignora-se que Soderbergh faz o mesmo nos seus filmes, e de maneira bem mais subtil.

O reconhecimento geral da sua qualidade chegou em 2002, com a aclamação oscarizada de "Erin Brockovich" e "Traffic" (tendo ganho um Oscar de melhor realizador por este último". No entanto, a sua carreira anterior começara com uma obra fundamental para ser perceber o cinema indie da década de 90, "Sex, lies and videotape". O seu ocaso posterior à aclamação em Cannes sempre pareceu estranho, mas a culpa foi, em parte do próprio Soderbergh que se trancou no ghetto arthouse cinematográfico de que tanto gosta, com o seu experimentalismo constante. Quando se decidiu a regressar ao mainstream, fez aquele que ainda é dos seus melhores filmes, mesmo que muita gente não o recorde, o que é um crime. Falo de "Out of sight", um exemplar cool e excitante do tipo de thriller com estilo que já se vê muito pouco.



A história é adaptada de um livro do genial Elmore Leonard, autor de ficção criminosa com um estilo de humor seco e enredos onde a falta de confiança e de escrúpulos do ser humano são sempre o principal motor da história. São dele os romances que originaram, por exemplo, "Jackie Brown" e a série de televisão "Justified". Aqui, Jack Foley é o personagem principal, um tipo tão cheio de charme que consegue assaltar bancos simplesmente com a sua presença e palavras. Uma complicação que se dá a uma fuga da prisão cruza-o com uma US Marshall Karen Sisco, muito senhora do seu nariz, mas que parece ter más opções no que toca aos homens. Meia hora na mala de um carro e uma conversa chegam para criar entre eles uma atracção, que corre paralela a uma intriga que envolve um punhado de diamantes que valem 5 milhões, e um grupo de personagens folclóricas que tornariam qualquer filme colorido.



Mas o que realmente destaca este filme é a relação entre Jack Foley e Karen Sisco. Interpretados por George Clooney e Jennifer Lopez, tornam o celulóide tão sexy quanto uma lingerie, e mesmo que o filme esteja cheio de bons actores (Ving Rhames, Steve Zahn, Don Cheadle), o binómio Lopez/Clooney varre tudo o mais. Quando ambos aparecem no ecrã, o filme mete três mudanças acima, pelo menos. É estranho o quanto isto é atípico no cinema de Soderbergh, normalmente frio e muito directo, mas é uma excepção bem vinda na sua paleta, e faz-me pensar no quão bom ele podia ser se de vez em quando se lembrasse de reintroduzir o elemento e interações humanas desta forma nas suas obras posteriores. Jennifer Lopez é uma revelação neste filme, e dá pena aquilo em que a sua carreira se tornou. Talvez nem ela própria ligasse muito aos filmes que fazia; mas vê-la em "Out of sight" é um enorme prazer. Karen Sisco é uma mulher segura de si, muito cool e cheia de pinta. Mais ou menos o género de personagem que tornaria Angelina Jolie e Uma Thurman, por exemplo, em heróinas kick ass no início do século XXI. Quanto a George Clooney... Se quiserem saber onde começou a lenda de Clooney, a estrela de cinema, não se percam em hospitais de Chicago: parem aqui por Detroit e sucumbam a uma das grandes pragas da 7º arte moderna. Há também uma banda sonora de David Holmes, groovy e que pauta os tons de sangue frio da obra com o calor das batidas, como se fosse uma viagem algures pelo país da descontração.

Penso que este filme terá caído no esquecimento um pouco porque a memória é ingrata. Soderbergh não é um realizador cujo culto permita estas recuperações, e a primeira década da sua obra permanece um pouco esquecida. Injustamente, a meu ver, porque mesmo nos seus filmes mais fracos (como "Kafka"), o norte-americano consegue ser bastante interessante. "Out of sight" é um filme que se vê muito bem ainda hoje e nem parece ter quase 15 anos. É extremamente divertido, fluido e dos filmes mais sexy que já vi. Apelo-lhes que não deixem este filme fora da vossa vista, quanto mais não seja para verem uma Jennifer Lopez que nunca na vida sonharam poder existir.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Why was that a surprise? You can always pick the winners at the starting gate - the winners and the losers. Who woulda put a penny on me?


"Once upon a time in America", de Sergio Leone

Showdown: Tim Burton - parte 3



5 - "Ed Wood" - Este é, provavelmente, dos biopics mais estranhos colocados no celulóide. A maior parte das figuras históricas que merecem uma biografia tiveram algum contributo ou marca positiva na História, ou na Cultura. Edward Wood merece este filme porque era terrivelmente mau. Os seus filmes são atrozes e aulas práticas sobre como não fazer filmes. Porque sentiria então Tim Burton uma afinidade com um homem e artista medíocres? Simplesmente porque Wood era, talvez o ingénuo mais entusiasta que jamais pisou um plateau, um homem que contra todas as provas e evidências continuava a acreditar que o seu talento era realmente enorme. Num momento chave do filme, o pior realizador do mundo e o melhor realizador do mundo (Orson Welles) encontram-se num bar, e por momentos, a diferença entre ambos é quase nula. A arte e o ridículo são quase indiferentes quando entregues a uma máquina sem alma; mas enquanto Welles deprime e se afunda em bebida, Deep, num dos seus melhores papéis (e onde tem muito pouco maquilhagem e adereços weird) transforma Wood num alucinado de olhos abertos, que adora casacos de angorá e nunca se deixa abater. "Ed Wood" é um dos filmes mais uplifting da carreira de Burton, porque, no pensamento pouco ortodoxo do realizador, representa o triunfo do espírito humano. Sob a forma dos piores efeitos especiais da história do cinema, claro.



4 - "Mars attacks" - Confesso que da primeira vez que vi este filme, há muitos anos, não fiquei com uma impressão largamente positiva do mesmo. Talvez fosse da idade. Mas depois disso, já o revi, com olhos de ver, mais duas vezes, e é, seguramente, das comédias mais delirantes a que assisti. É uma sátira ácida, quando no campo político; terna, quando se entretém a parodiar e homenagear um certo tipo de ficção científica e ingénua; e violentamente surreal, quando integra personalidades bizarras (Tom Jones, por exemplo) numa intriga de salvação do mundo. Eu acho que Tim Burton é um dos melhores realizadores cómicos do cinema norte-americano, e tenho pena que poucas vezes, nos últimos anos, tenha enveredado por caminhos desses, optando por um auto-citamento que o torna menos interessante. Mas aqui, com um elenco heterogéneo e de grandes estrelas (Jack Nicholson, Glenn Close, Pierce Brosnan, Rod Steiger, Natalie Portman, Michael J. Fox, Pam Grier...), ele transforma os extraterrestres em criaturas brutalmente irritantes e nada próximas da inocência ou sofisticação a que nos habituámos. Não é que os humanos fiquem melhores na fotografia.... Depois de biografar Ed Wood, Burton homenageia-o subtilmente, utilizando efeitos visuais dispendiosos para dar um ar tosco ao filme. O que é uma delícia. Pode ser uma bizarria, mas é gloriosa e excelente.



3 - "Edward Scissorhands" - Uma das melhores fábulas da historia do cinema. O homem com mãos de tesoura é, porventura, a maior criação de Burton, um personagem onde este consegue encaixar todas as suas referências, inspirações e obsessões (desde o gótico da sua habitação até à paternidade de Vincent Price, a grande figura dos filmes de terror a que o realizador assistia na sua infância e adolescência). Um homem com um drama que o liga a todos os grandes arquétipos trágicos do cinema de terror: não consegue tocar em nenhuma pessoa sem a magoar. Mas longe de ser aterrorizador, "Edwars Scissorhands" é uma história de amor entre um frreak e uma rapariga que é ela própria uma freak sob o disfarce de normalidade. O filme faz questão de vincar o ponto de que não se deve forçar ninguém a ser quem não é, quando uma família, arrancando o personagem principal do seu castelo onde este vive sozinho, o tenta civilizar, apenas conseguindo que uma cidade inteira persiga este "monstro" de coração doce e inocência pura (Johnny Depp é tão genial que as tesouras nem são necessárias para nos fazer sentir a sua dor) numa raiva irracional e injustificada. Um reflexo do próprio Burton, provavelmente. Continua a ser, aliás, um dos seus filmes mais emblemáticos; e embora seja muitas vezes esquecida a sua contribuição, as próteses de Stan Winston  são a outra grande personagem deste conto, uma das muitas contribuições icónicas que este génio trouxe ao cinema



2 - "Batman returns" - A principal característica dos filmes protagonizado pelo homem-morcego que Tim Burton arquitectou é, sem dúvida, o protagonismo que os vilões possuem em relação ao personagem titular da saga. Esta obra de absoluto génio é a sua grande evidência. Batman é totalmente colocado em segundo plano pelo Penguin (um retrato melancólico pintado a bílis por Danny deVito) e pela Catwoman (uma bomba de C-4 sexual condensada num fato de látex e manobrada com mestria por Michelle Pfeiffer), e nenhum espectador com gosto se incomoda com isso. Ambos os personagens são mais interessantes que Batman, e nenhuma destas três criaturas, por muito freak que seja, consegue ser mais horrível do que Max Schreck de Christopher Walken, um capitalista sem escrúpulos, sentimentos ou qualquer réstia de moral. É estranho como Gotham, ao contrário do mundo que Christopher Nolan criou, é não uma cidade, mas uma espécie de limbo do inferno, onde os realmente diferentes encontram espaço para não só sobreviver, mas sobressair. Neste segundo "Batman", Tim Burton sai completamente da lógica do filme de super-heróis e entra no seu território. Já não estamos no mundo de Batman, mas entrámos nos confrontos típicos de Burton, no seu tom operático, no seu gosto pelo barroco. O móbil da história é, no mínimo, ridículo, e algo bíblico; mas todo o seu tom de desencanto num mundo encantado e retirado de um conto de fadas que Edgar Allan Poe teria escrito eleva esta obra à categoria das melhores de Tim Burton, e a um dos meus filmes preferidos.



1 - "Big fish" - O maior problema de toda a carreira do realizador que tem sido abordado nos últimos dias é, na minha opinião, o facto de se recusar a expandir o território da sua obra. Parece-me até um pouco estranho, porque o seu melhor filme, embora mantendo alguns dos seus temas fetiche, sai formalmente muito para lá daquilo que consideramos ser o universo habitual de Tim Burton; e talvez seja por isso que a história respira muito melhor do que se estivesse sob constrangimentos de espaço e ambiente a que o realizador se visse obrigado a cumprir. "Big fish" é um dos melhores filmes da década que passou. Homenageia a vida, a arte de contar uma história, o poder da imaginação e luta contra as limitações da realidade e do cientismo extremo a que entregámos as nossas mundividências. Antigamente, os contadores de histórias eram celebrados como mágicos criadores de mundos; hoje, parecemos desprezar os vôos da ficção, optando pela dura realidade de ter os pés no chão. No filme, onde um filho demasiado sério se confronta com um pai com uma doença terminal que parece recusar-se, por uma vez que seja, a descrever e encarar a realidade, trata precisamente esse confronto, onde percorremos a vida de Edward Bloom, o pai, pelas suas próprias palavras e descrições. É um mundo de coisas impossíveis, mas mil vezes mais sedutor e confortável do que a realidade. Como seres humanos, começámos por criar mitologias como formas elegantes e belas de descrever e compreender o mundo. "Big fish" celebra esse feito a uma escala mínima, num filme sobre família, e o poder do amor e da imaginação. Os últimos momentos de Edward Bloom, onde pai e filho reconstroem uma morte poderosa e que eleva a vida a algo mais, são dos finais mais emocionantes que o cinema moderno nos proporcionou. Tim Burton é Edward Bloom: por vezes, o seu vôo para fora da realidade pode irritar-nos e exasperar-nos, mas quase sempre voltamos aos seus mundos, pois são bem mais atraentes do que a realidade cinzenta onde esticamos a nossa vida.


domingo, 20 de maio de 2012

"Kick ass"




"Kick-ass" é um filme em cuja palavra "demência" pode ser usada para explicar basicamente o que nos inspira, enquanto o vemos. Porquê? Poderão ler em várias críticas coisas que envolvem palavras como "meta-diegética" e "desconstrução". São giras, mas claramente uma tentativa de intelectualizar o prazer culpado de se gostar de um blockbuster. A BD de Mark Millar e John Romita na qual o filme é baseado presta-se a essa análise. Mas quem é honesto, admite que o filme é demente, porque tem uma miúda de onze anos a matar mauzões como se não houvesse amanhã.
Mas lá chegaremos. O filme conta em traços gerais a ideia parva de um adolescente nerd  em  transformar-se um super-herói. Para ele, basta vontade e um fato parolo enviado pelo correio. Claro que o primeiro pensamento é "Oh não, mais um daqueles filmes em que não damos nada pelo herói e afinal, ele sempre teve os poderes dentro dele", mas o filme rapidamente afasta essa ideia e enquanto se entretém a satirizar os fenómenos de popularidade internética, mostra-nos que o adolescente, Dave Liszewski, é mesmo tótó. É quando os verdadeiros heróis do filme surgem que a coisa passa do mundo adolescente para o dos super-heróis a sério. Big Dady e Hit-girl, um pequeno prodígio da matança que com a sua katana dupla entra realmente a matar no filme, têm, ao contrário de Kick-ass, capadidades para deter criminosos. Mas também muito pouca sanidade. Rapidamente os três entram em rota de colisão com o mafioso da cidade, Frank d'Amico, e também o seu filho, Chris.
A mensagem do filme é simples: "Sem grande poder, vem uma grande responsabilidade", um riff aos filmes do Homem-Aranha. Matthew Vaughn, o realizador, é um cruzamento bizarro entre o John Woo de Hong-Kong e um Michael Bay com juízo: aproveitando habilmente um orçamento relativamente magro, ele transforma "Kick-ass" num pequeno concentrado de loucura visual e de história, com Nicolas Cage a imitar o Batman de Adam West. Hit-girl (Chloe Grace-Moetz a ser uma revelação), a miúda acima referida, mata gente, diz palavrões à bruta e aceita a destruição como brincadeira. No entanto, nunca nos esquecemos de que ela é realmente uma miúda, como se fosse a filha perdia da noiva de "Kill Bill" e a Mathilda de "Léon". Isto pode abespinhar moralistas e gente que considera que sempre que se mostra uma arma num filme, as pessoas correm a matar alguém, mas é no fundo um espelho da nossa própria identidade fílmica, de aceitar a violência nos filmes como algo de normal e natural. Nesse sentido, o filme é mais paródia ao cinema violento do que ao cinema de super-heróis. Mas consegue ser bem sucedido em ambos os esforços. Louva-se também o retrato mais ou menos natural do que é a vida de um nerd numa escola, sem exageros. Há apenas uma sub-intriga envolvendo homossexualidade que achei meio cliché... Mas que ainda assim, tem a sua piada.
É um filme que se recomenda a quem gosta de entretenimento delirante e não tem uma sensibilidade particular a um ou outro tabu. Ah, e que não acha o conteúdo do seguinte vídeo particularmente ofensivo.




Jack, I swear...


"Brokeback mountain", de Ang Lee

quinta-feira, 17 de maio de 2012

The show's over for tonight. Preview of coming attractions.


"Rear window", de Alfred Hitchcock

Showdown: Tim Burton - parte 2



10 - "Batman"

O primeiro filme verdadeiramente mainstream de Tim Burton pega num super-herói que o realizador norte-americano retorce o suficiente para encaixar no seu universo. "Batman" é divertido e excessivo, e não agrada a muitos fãs picuinhas de BD, porque mexe em coisas básicas do DNA e história do Homem-Morcego, desde a morte dos seus pais até à origem do Joker. Embora tenha um ou outro aspecto de obra de encomenda (e isto, estranhamente, inclui algumas necessidade de o argumento fazer sentido), esta obra tem marcas bem autorais de Burton, para o melhor e para pior: o sentido de humor negro, o outsider num mundo que é ele próprio um conto gótico em movimento (cortesia dos magníficos designs do malogrados Anton Furst), o excesso por vezes injustifiado e uma maior atenção dada aos freaks do que ao personagens mais regulares. Jack Nicholson rouba o filme e apaga Michael Keaton, que faz alguma figura de corpo presente como Batman; mas esse é o risco que os personagens principais dos filmes de Burton correm quando não são interpretados por Johnny Depp.



9 - "The corpse bride"

Muita gente viu "The corpse bride" como uma sequela espiritual de "A nightmare before Christmas", e há realmente pontos em comum entre as duas obras, desde a técnica utilizada, até ao próprio imaginário monstruoso. No entanto, existe um oceano a separar as duas obras."The corpse bride", dentro da sua premissa de um jovem responsável que se vê obrigado a escolher entre uma noiva viva e outra cadavérica, é surpreendentemente um filme relativamente simples e directo, longe do excesso glorioso da obra de Henry Selick que Burton alimenta com as suas obsessões. Tirando um desvio pelo mundo dos mortos, onde o eterno compositor de Danny Elfman dá a um personagem que lidera um divertido número musical, falta algum fogo de artifício a esta obra que, sendo um bom filme, podia ter-se transformado num objecto de excelência. "The corpse bride" é, no entanto, o regresso a alguma comédia mais sofisticada por parte do realizador, e mesmo que a história nunca cumpra completamente o seu potencial, é um filme de animação muito agradável.



8 - "Charlie and the chocolate factory"

Ao primeiro visionamento, é um filme algo pindérico. Não é a primeira que vez que Tim Burton constrói um conto para crianças (na sua perspectiva, ele até pode argumentar que tem vindo a fazê-lo dsde o início da sua obra). Mas "Charlie and the chocolate factory", por entre os seus momentos doces (e não me refiro á fábrica que dá nome à obra), é de uma acidez assinalável, tratando crianças travessas com castigos desproporcionais e horríveis. Isto é um conto infantil na melhor tradição dos irmãos Grimm, misturando inocência com alguma violência, e mostrando diversão enquanto rasga o caminho com a obra de Roald Dahl em punho. O miúdo Freddie Highmore é o cúmulo da inocência, e há um certo subtexto de família pobre a quem sai a sorte grande, mas tudo isso é esquecido quanto entramos na fábrica e somos esbofeteados com os visuais de grande requinte. É, sem dúvida, dos trabalhos visualmente mais inventivos do realizador. Johnny Depp, a crush masculina de Burton, emula Michael Jackson disfarçadamente, sem nunca ser demasiado creepy, parecendo mais aterrorizado com crianças do que atraído por elas.



7 - "Sleepy hollow"

Não sendo um dos melhores filmes de Burton, é um dos que gosto mais de ver, porque é um delírio visual delicioso e atmosférico, que para além disso cumpre o propósito de ser quase um personagem secundário desta adaptação do conto de Washington Irving sobre uma criatura diabólica que monta a cavalo e vai decepando gente na América do século XVIII. O argumento tem mãos a mais, pormenores narrativos forçados e às vezes nem faz sentido. No entanto, Johnny Depp compõe uma das suas criações bamboleantes mais divertidas, e há todo um ar de gozo e diversão na empreitada a que é impossível engelhar o nariz. Burton ensaia uma ou outra sequência onírica em ambiente de pesadelo, e tem um conjunto de secundários que empresta colorido ao cenário. Estranhamente, há um certo propósito no filme,de misturar a ciência fria e racional com os mundos sobrenaturais da imaginação, como se Burton fizesse um subtil comentário ao cinema moderno e ao abandono que faz da loucura. Mas saindo dessas reflexões mais sérias, um dos melhores trabalhos de realização de Burton!



6 - "Sweeney todd"

Juntar um cineasta com o estilo visual de Tim Burton e o género musical pode parecer um erro de casting. No entanto, os mais atentos à obra do realizador devem ter reparado que a principal fronteira entre os dois mundos é o facto de os actores não cantarem. As bandas sonoras de Danny Elfman, em conjunto com o ritmo próprio das obras de Burton, dão um sentido musical a alguns filmes do realizador. "Sweeney Todd" era o musical da Broadway que estava à espera que Burton assumisse finalmente esse talento que lhe estava latente. A história é à medida do realizador: um barbeiro é condenado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de alguns anos, regressa à sua cidade, Londres, para se vingar daqueles que lhe roubaram a vida. Tudo isso envolvendo navalhas de barba e empadas de carne, com sangue, canibalismo e homicídio à mistura. Tim Burton constrói um território que lhe é familiar, uma Londres do século XIX com a decadência urbana das obras de Charles Dickens e um negro gótico dasde Edgar Allan Poe, o que diz bem daquilo que esta obra entronca em si. A forma como encena todo o macabro como uma comédia negríssima, algures entre o cinema de terror britânico da década de 40 e os seus próprios filmes iniciais (como "Beetlejuice") é espantosa. 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

To be or not to be? Not.. to be!


"Last action hero", de John McTiernan

Showdown: Tim Burton- parte 1



"Showdown" é uma rubrica cujo objectivo será sempre analisar o trabalho de um artista ligado ao cinema a partir do meu gosto pessoal, sendo por isso subjectivo. Por isso, não levem a coisa demasiado a sério!

Percebo que o primeiro visado desta rubrica me fará ganhar vários comentários de desdém, porque é uma figura adorada em todos os quadrantes das minhas amizades. Ouvi já vários meninos e meninas, com a mania de que de tudo o que vem da América é mau, fazerem a ressalva de que só ele é a única coisa que se safa na mediocridade norte-americana. "Ele" é Tim Burton; e visto que estreou esta semana o seu novo "Dark shadows", a altura é excelente para saber se o realizador de cabelo desgrenhado é assim tão infalível quanto alguns o pintam.
Na primeira parte deste artigo, colocarei num top meramente de gosto pessoal (nunca é demais reforçar isto) os filmes realizados por Tim Burton, do pior para o melhor. Um apontamento: "Nightmare before Christmas" não conta para esta contagem, pois NÃO foi realizado por Burton. Sim, todo ele é a visão do gótico norte-americano, mas o homem atrás da câmara dá pelo nome de Henry Selick.



15 - "Alice in the wonderland"

Tenho um enorme respeito pelo trabalho de Tim Burton. Ele consegue ser, em simultâneo, um excelente poeta visual e também alguém com uma sensibilidade para criar fábulas consistentes e muitas vezes emocionantes. Associá-lo ao mundo de Lewis Carrol parece apenas ser natural. É por isso que se torna uma enorme desilusão ver o resultado final deste filme, uma mistura incoerente dos maus tiques de Burton com as necessidades de um filme de estúdio que necessita de determinados momentos (nomeadamente a nível da acção) que se tornam absolutamente dispensáveis. O argumento tenta focar a história no crescimento pessoal de Alice (e Mia Wasikowska agarra bem o papel), mas perde-se em conspirações nos corredores reais e bizarrias que são apenas isso. Nem Johnny Depp se salva e salvo um ou outro bom momento de delírio visual, este é, e a boas milhas, a pior obra de Burton: pleno de visuais, zero de consistência dramática.



14 - "Planet of the apes"

Não se pode dizer, como muitos fãs argumentam para desculpar o falhanço, que esta obra não tem nada de Tim Burton. Ela tem tudo: um outsider num mundo que o persegue; monstros humanizados; romances proibidos entre freaks; e no entanto, é uma obra confusa, com um fraco protagonista e trocando o que poderia ser um excelente ponto de partida para questões existenciais (coisa que o futuro "Rise of the planet of the apes" faz bem) num desfile para as criações, embora magníficas, de Rick Baker. É visualmente excelente, mas não está sequer interessado em abordar óbvios pontos de vista políticos e sociais, entretendo-se mais em distinguir tipos de macacos. Bons actores cruzam-se com maus, e o argumento não dá a ninguém grande coisa que fazer. É um filme com muito bom aspecto, mas burro, que é coisa que Tim Burton não é. E o que é aquele final?



13 - "Pee-wee's big adventure"

Começamos a entrar num campo que me dói, porque ao contrário dos dois filmes anteriores, "Pee Wee's big adventure" não é um mau filme. Aliás, é uma história deliciosamente surreal e demente, criando as bases do estilo que todos viriam a relacionar com Tim Burton. O ponto de partida é o rouba da bicicleta de Pee-Wee, um personagem meio infantil e quase saído directamente de uma BD; um adulto/criança que veste um fato com laço vermelho, e é um optimista incurável. É um filme divertido e estranho, mas não me deixou uma impressão mais duradoura do que essa.



12 - "Beetlejuice" - "Beetlejuice" é um filme altamente divertido e tem um dos melhores personagens da galeria de Tim Burton. Michael Keaton tem provavelmente o melhor papel que já lhe deram e injecta tanta diversão e criatividade naquele personagem que é difícil lembrarmo-nos que este só aparece em vinte e pouco minutos do filme. No entanto, quando aparece, deixa a sua marca de tal maneira que eleva a obra a outro nível. "Beetlejuice" tem outros excelentes actores (Alec Bladwin, Geen Davis, Winona Ryder) e uma história curiosa, em que dois fantasmas têm de aprender a assombrar a sua anterior casa para se verem livres dos donos, No entanto, fica-se sempre com a sensação de que até Beetlejuice entrar em modo de domínio completo, e a verdadeira loucura começar, a obra coxeia um pouco até ao grande salto final.







sexta-feira, 11 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Aberturas




A arte da abertura de um filme através de um genérico que nos lance imediatamente na atmosfera e história do mesmo parece ter-se perdido. No entanto, ainda é possível encontrar excelentes exemplos no cinema recente.

"The fall", obra desigual, mas fascinante, de Tarsem tem uma pérola na sua abertura que, sozinha, é superior em arte a muitas longas-metragens. O realizador indiano não prima por ser um dramaturgo, ou daràs personagens e à história a atenção que merecem; no entanto, poucos artífices têm actualmente o mesmo poder destruidor da sua imaginação visual.
"The fall" adequa-se perfeitamente aos seus talentos. É contado em tom de fábula, por um adulto a uma criança; e a backstory do adulto fica estabelecida neste genérico.

O que fascina não é o desenrolar dessa mesma backstory, mas sim a elegância clássica do slow-motion, a captação de micro-expressões escondidas e um renovar de uma das peças de músicas mais usadas em cinema, o movimento Alegretto da 7º sinfonia de Beethoven. Cada cut é uma dissolução entre o real e o irreal, e cada fotograma uma pintura à espera de ser colocada numa parede. O uso do preto e branco é não só adequado à época em que o filme se desenrola, e o próprio meio, mas é uma opção estilística que se deve talvez à própria noção de fantasia e diferença que o contraste com um mundo actual cheio de cor provoca. O preto e branco é a ruptura, e afinal, a reflexão da mente do protagonista.

É um magnífico genérico, e quase uma curta-metragem à parte do resto da fita. Um arremedo de sonho, onde as coisas parecem animais e os animais coisas. Um terreno de fábula, portanto. Mas também de terror, de um certo de surrelismo, onde pedaços do quotidiano tomam o aspecto de criaturas grotescas. Como Tarsem bem definiu, é um caos sem energia.

Andy Dufresne, who crawled through a river of shit and came out clean in the other side


"The shawshank redemption", de Frank Darabont